terça-feira, 14 de setembro de 2021

Camuflada entre rosas

 A tarde verde azul
testemunhou 
o dia
em que tu
numa paleta 
vermelha
entre rosas
se camuflou.

O dia
foi quase tão bonito
quanto o sorriso
que do teu rosto
desabrochou.










quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Poema sobre o nada ou Tinha um prédio no meio do caminho

O prédio atrapalha a minha visão
a vontade de querer enxergar o mundo de azul
de assistir às cinco e quarenta e cinco da manhã
o pôr-do-sol ao contrário
cinza alaranjado rosa amarelo 
em contraste à feia arquitetura
que transforma pedra sem vida
em colunas cimentadas que atrapalham a minha vista.

Eu quero enxergar
bisbilhotar
debaixo das pedras 
que não têm, 
mas que abrigam:
vida.

Eu quero espionar
o verde musgo das briófitas
o desabrochar das borboletas
o cochichar dos bem-te-vis
a palavra voando fora da asa
o milagrar de flores

Eu quero atirar pedras no céu 
e acertar algum homem de pecado
que dizem ser santo

mas há um prédio no meio do caminho
arranhando o céu 
sem carinho
como um amontoado de pedras desperdiçadas
que sequer abrigam musgo

no meio do caminho há um prédio
que atrapalha minha visão
que tem nome de cidade europeia 
ou de um homem branco qualquer
que minhas retinas fatigadas
traduzem livremente:
Ed. Dr. Zé Ninguém 

Nunca esquecerei desse acontecimento...

Manoel de Barros me entenderia 
Carlos Drummond de Andrade também.

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Fica

Para Raíza Carvalho

Saudade é coisa que fica
como o cheiro 
do chamego
da memória
do livro
da história que passou
mas que ficou.

Saudade é coisa que grita
como uma voz sufocada
que mesmo abafada
consegue ser ouvida.

Saudade é querer voltar
quando ela é ida
é norte. 

Saudade é como o teu cheiro 
que fica
e fica forte.




Desperdício de palavras

O teu silêncio 
fala comigo
mais do que qualquer palavra

nós não existimos mais
um para o outro
não somos mais nada
daquilo tudo
que quase chegou a ser

o teu silêncio fala
sem desperdiçar nenhuma palavra

será que dói morrer?



"Echo of silence"

domingo, 15 de agosto de 2021

To Khatia Buniatišvili

This morning
is Mediterranean blue 
and the Georgian pianist
playing Tchaikovsky
and the morning breeze
smelling like nostalgia
coffee and bread 
make me remember
what (one day) 
I used to call
poetry.




quarta-feira, 21 de julho de 2021

Para Khatia Buniatišvili

A manhã 
azul mediterrâneo
a pianista georgiana 
tocando Tchaikovsky
o cheiro da manhã
- de saudade,
pão e café
me fazem relembrar
o que um dia
acostumei chamar
poesia.



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Ida

Às vezes eu paro e penso:
como é engraçada a vida
a gente morre de vontade
de voltar 
(no tempo)
esquecendo
que o tempo só conhece 
passagem de ida.




terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Poema para o abraço na Praça João Lisboa

Tem abraço que é poesia
Tem abraço que é aconchego 
Tem abraço que é moradia 
Tem abraço que é desassossego
Tem abraço que é eterno
(Por segundos)
Tem abraço que é etéreo
Tem abraço que cabe o mundo
Tem abraço que é fogo
Que arde e a gente vê
Tem abraço que é desafogo
Tem abraço que faz reviver
Tem abraço onde a gente se encontra 
Tem abraço em que a gente se perde
Tem abraço que a gente remonta
Tem abraço que a gente nunca se esquece 
Tem abraço que é asa 
(Faz o pensamento voar)
Tem abraço que é casa 
Onde a gente deseja pra sempre morar.

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Estalagmite

Quando tu choves em mim
eu solidifico
minha língua paralisa
e dentro de ti eu fico
-fixo
entre tuas pernas
como estalagmite 
no chão de uma caverna...

Quando tua placa tectônica
vai de encontro a minha  
a angústia platônica
transforma-se em correnteza 
que vai me levando feito rio
ate às (suas) profundezas,

E quando aparento estar sem ar
eu te sonho de novo
e a água que me puxa
desta vez é salgada
como as ondas do mar
e o suor do teu corpo,

Mas nem em frente ao mar
eu hei de sede morrer,
pois bebo da tua saliva 
me alimento de tua seiva 
e banho na tua fonte 
que me faz reviver.

 
























Ilustra by @alphachanneling


quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Jeito de solidão

 O grito da saudade ecoa
 no silencio
e o peito tenta gritar
abafado
o teu nome
mas é sufocado
pela angústia que me consome,

O grito da saudade ecoa
no silêncio
e o coração tenta ouvir
o teu nome
em vão
o dia indiferente já vai
indo embora
sem alarde
são cinco e quarenta e cinco da tarde
é mais um por do sol
com jeito de solidão.




segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Eu e Você

Quase tudo já foi dito
mas há sempre algo
a se dizer
pois acostumar-se
à ausência
(em silêncio)
é uma das piores formas
de sofrer.

E de sofrer
o poeta entende
principalmente
se for de saudade
pois aquilo que se sente
é a nossa mais íntima verdade...

E a verdade é que quase tudo
já foi dito
mas há sempre algo mais
a se dizer:
se o amor é infinito
nós dois seremos sempre
eu e você.






terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O acaso e o amor

Disseste-me que todas as vezes
que falei de nós
-em poesia
citei o acaso,
[não por achar que destino fosse algo
que simplesmente aconteceria]
mas por ter certeza que um encontro
tão sublime
decerto era raro.

Tempos depois o encontro 
dar-se-ia por palavras
juntando aquilo que eu penso
com o que você falou:
para que (outras) pessoas possam andar juntas
de mãos dadas
antes caminham lado a lado
o acaso
e o amor.











segunda-feira, 30 de novembro de 2020

FELIZ

Sinto-me tranquilo
como quem assiste a um tsunami 
sem binóculo.

Sinto-me tranquilo
como o poeta que vê páginas de calendário sucessivamente sendo arrancadas
enquanto sua folha permanece eternamente em branco,
intacta.

Sinto-me tranquilo
como quem por acaso boia em alto mar
na companhia dos tubarões,
e sem saber nadar.

Sinto-me tranquilo
como os que a cada cheiro, 
pensamento 
ou susto
choram de saudade...

Sinto-me tranquilo
como quem aguarda o fim da tempestade
sem saber quando a tristeza vai embora...

e continua a chover lá fora
chuva de saudade demora... 




segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Olhos nos olhos

 Quando teus olhos refletem os meus

significa que estamos a uma distância segura

em que o tempo para

(como um beija flor no ar)

e o amor se eterniza

em cada segundo

que estou a te beijar.

Quando meus olhos refletem os seus

e eu consigo ouvir teu respirar

o tempo para de novo

(como uma onda

no microssegundo antes de arrebentar...)

então

meu corpo entra em estado de erupção

e o amor já é eterno em teu olhar,

tua mão desliza em meu peito

e o teu corpo se deixa flutuar,

então

descubro de que o amor é feito:

olhos nos olhos,

e não há mais nada 

que se precise falar.









A POESIA DO CORAÇÃO NÃO PRECISA DE EDITORA

 A poesia do coração não precisa de editora

pois já foi escrita 

Revisada e publicada

No livro de memória da emoção

E a dedicatória

É reescrita a cada dia 

Como uma nova canção,

Pois teu amor soa a mim 

Como uma sinfonia 

E meu desejo é ouvir o som

Dos teus passos 

Cada vez mais 

A cada dia.

Desejo-te

Caminhando ao meu lado

Como água da chuva

Em pedra de encantaria

Divertindo-se 

E sendo parte da paisagem 

Pois sem ti 

Sentido não faria.

A poesia do coração não precisa de editora

Mas também não caminha sozinha 

Ela percorre as ruas, os becos

Até se encontrar com o poeta 

Nalguma esquina. 

Como nós dois

Tomando sorvete sentados na escadaria

Do Beco Catarina Mina.




terça-feira, 9 de junho de 2020

Zênite solar

Teu corpo
é floresta tropical
quente
úmido
esplendoroso
dos pés ao topo
é beleza viva
jacarandá
que faz sombra
em meu corpo.

Por ele passeio
cuidadoso
e admirador
cubro-o de carinhos
e beijos
até chegar ao teu umbigo
- que é a linha do Equador,
centro imaginário do (meu) mundo
que o divide em dois:
um antes de ti, tempo passado
e outro muito melhor, depois.

Em minhas mãos
tu escorres
como seiva
a precipitar-te
de prazer
molhando meus dedos
como um céu emocionado
quando começa a chover.

Sigo percorrendo o teu corpo
até o limite do solstício
onde a vida tem fim
e começo
mas eu estou só no início,

E o que eu tenho é amor
para te dar
teu corpo no meu corpo
encaixados perfeitamente
é meio dia
é o zênite solar.


42 Melhores Ideias de Panteras e sombra e luz | Fotografia sombria ...






Museu de minhas memórias ou homenagem ao poeta e bailarino Mário Quintana

Faço das minhas memórias
um museu

[não somente de 
grandes novidades],

mas principalmente
uma eterna exposição
de minhas saudades,

um livro aberto
volume único
indivisível,

metafórico
político
apaixonado
eufórico...

Como Quintana
em A Cor do Invisível.

Faço das minhas memórias
um museu

um museu de amor
sempre aberto à visitação,

onde se caminhando
pelas minhas lembranças
o visitante
se encaminhará também
ao coração.

Faço das minhas memórias
um museu

em que a fachada é um arco-íris
de todas as cores

a entrada é 1 quilo de alimento para a alma
- jamais perecível,

e o ingresso
o passaporte pros amores.

Faço das minhas memórias
um museu

como o bailarino
faz da vida sua pista de dança,

se vale a pena?

"Não sei dançar
minha maneira de dançar
é o poema."



Literatura na Arquibancada: Quintana e o futebol







NASCI PARA AMAR

Eu nasci para amar
E amo!
Em demasia,

Eu nasci para ser
E sou!
- poesia,

Eu nasci para sentir
E sinto muito!
Mergulho
Em nostalgia,

Eu nasci para cantar
E canto!
Dia após dia,

Mas não nasci para calar
E não me calo!

Minha chama acesa
é que me mantém viva...

Nasci mesmo para o amor
Porque só amar
É que salva vidas.

Tudo passa... até mesmo o amor. Viver é recomeçar | Revista Bula

MINHA INSPIRAÇÃO E MEU ENCANTO

Para o privilegiado
- aquele que desfruta
de todos os seus cinco sentidos,
enxergar apenas com os olhos
é algo demasiado limitado.
Para o poeta é importante
enxergar
(com todos os sentidos)
e logo se descobre que a beleza
não habita em um só lugar.
E que o belo tem cheiro
e o amor textura
que o carinho
nem sempre é o toque
e que o coração ouve
(baixinho):
"Amor não é remédio,
Mas amar cura..."
Para o poeta é importante
enxergar
e reinventar os sentidos
como Neruda que abriu mão da primavera
para a sua amada poder olhar.
Eu, certo de meus sentidos
uso minhas palavras para enxergar
por isso sigo reafirmando
toda a poesia que minhas mãos
e meus olhos não cansam de falar,
mas antes que o poema acabe
permita-me dizer-te
o que não disse ainda:
És tu o meu amor
e nunca vi criatura mais linda
por todos os ângulos, superfícies
e enquadramentos sigo afirmando
És tu a mais linda
metafórica, metafísica
e filosoficamente falando,
és o amor de minha vida,
minha inspiração
e meu encanto.


Natureza pela Arte

Carta ao amor de quarentena

Dia 35 da nossa maldita quarentena:

Hoje eu acordei com o despertador tocando, porém o ignorei. O sono era mais pesado e mais importante do que as possíveis obrigações, então dormi de novo. Um tempo depois acordei e corri para ver o celular, como de costume. Como também é costume havia uma mensagem de bom dia. Não era qualquer pessoa nem era qualquer bom dia. No entanto, aquele "bom dia" soou diferente de outros "bons dias", é como se o sol, como eu, houvesse sido despertado, porém ignorando o chamado do mundo lá fora voltou a dormir. Então o bom dia saiu fraco. Não era culpa do sol, nem culpa sua, também não era minha. Há dias que o bom dia é mera gentileza... E que jamais nos falte gentileza!
Para um dia ser realmente bom creio eu que devemos estar bem, e isto nem sempre é possível. Os fantasmas da nossa cabeça andam por aí com uma caixa de ferramentas e nós não temos como prever a que horas eles resolverão abri-la, tirar um martelo de dentro e começar sua ingrata missão. Haja estrutura e ouvidos para aguentar tanta batucada sem ritmo, e nós somos apenas humanos, e o pior: brasileiros! Nosso negócio é ritmo, é quente, é cadência, mas ironicamente nos falta paciência...
Há dias que os fantasmas da minha cabeça trabalham dia e noite a marteladas, furando paredes imaginárias e construindo passagens que não ligam lugar nenhum a nada. Vai ver isso explique minha insistente enxaqueca, ou seria coisa da minha cabeça?
Não sei. Muitas coisas eu não sei explicar, mas as sinto, sinto muito, e nisto não vejo qualquer problema, pois ao coração não se mente, bem pior seria mesmo, se acaso eu fosse dormente. Eu sinto muito, sinto muito mesmo, de chegar a doer, mas doeria mil vezes mais se acaso eu perdesse você.
As últimas horas tem sido duras, e quanto mais duras as horas se arrastam, tão logo transformam-se em dias, e na quarentena cada dia a mais é um dia a menos sem o amor da minha vida.
Você sugeriu que escrevêssemos uma carta relatando sobre o nosso dia aquilo que nos lembrava um ao outro, eu em princípio discordei, mas uma coisa eu esqueci de dizer: tudo me lembra você.


9 dicas românticas para escrever uma carta de amor | Familia