A saudade não se resolve de uma vez só

A saudade não se resolve de uma vez só
entre um gole de conhaque
e a lembrança do teu beijo
rios desaguam
as estações do ano passam
a flor da primavera se despetala
o verão esfria
as folhas caídas de outono
viram pó
e a saudade não se resolve de uma vez só...

É preciso insistência
acreditar
ter paciência
enquanto os dias se vão
à espera do melhor
e quando o dia chega
finalmente
é que se percebe
amiúde:
a saudade não se resolve de uma vez só...

E se hei de morrer de amar - mais do que pude
confesso
da vida o que quero mesmo é sempre o amor
o amor maior
e mesmo que todo dia eu necessite desta prova
seguirei sabendo
a saudade não se resolve de uma vez só.

O amor é uma dança

O amor é uma dança
tem que ter ritmo
pode ser cadenciado
é melhor quando é juntinho
e no peito faz um sapateado...

O amor é uma dança
de uma energia completa
carrega um passo a passo
num ciclo perfeito
como a lua
(cheia)
iluminando nossa floresta...

O amor é uma dança
e eu estou sempre na porta
da festa
esperando a minha vez de entrar...

Ela é bailarina
eu sou poeta,

Será que ela me concederia a honra
de comigo um dia dançar?

O sangue que escorre em suas mãos

Se a minha dor não te incomoda
eu digo: sai fora!
Se o meu amor para ti não é afeto
dizes: detesto!
Mas o que tens a ver com isso, eu te pergunto
o amor não tem defeito
e tudo que tu me deves
é o mínimo de respeito.
Se a minha angústia
(só porque existo)
não te incomoda
eu grito: sai fora!
Se para ti justiça social
é esmola
eu digo: hipócrita!
Pois o que tu defendes em tua divina obra
é exatamente o oposto do que pregou teu Deus
Como podem marchar ao lado dos vendilhões do templo?
Ai de vós, fariseus!
Meu coração é vermelho
e nessa luta sangra
com os golpes que desferes em meus irmãos.
Cuidado quando colocares a mão na consciência
para não sujar teu rosto
com o sangue que escorre em tuas mãos.

Tua pele, meu apelo

À flor da pele
a tua pele me chama,
é um apelo!
Como o ipê
no início da primavera
que se despetala
e me espalha
como folhas em canteiro
ou um grito surdo de desejo
que sem tua presença
se cala!

À flor da pele
a tua pele me chama,
é um apelo!
Como os lírios
anunciando a chegada
do verão
levando os amantes
ao delírio
e à reconciliação.

À flor da pele
a tua pele me chama,
é um apelo!
Como a orquídea
no inverno
que busca o alimento
sobre as árvores
e alimenta-se de sua luz
eu te clamo em minha poesia
exaltando tua beleza
que me seduz.

À flor da pele
a tua pele me chama,
é um apelo!
Como as folhas
que perecem no outono
a despeito da nossa vontade
eu maldigo a distância
que nos separa
enquanto te espero
com saudade.

O gosto da saudade

A saudade

tem um gosto amargo,

Como agridoce

pode ser um abraço:

adocicado 

como o beijo 

do encontro primeiro

em vida

ou acre

como o abraço

choroso

de despedida.

A saudade

tem um gosto

amargo

como azeda

é a sensação da partida.

A saudade

tem um gosto antecipado 

quando o amor

é o tempero da vida.

Poema-abraço

Nenhum abraço causa estranheza
quando há amor envolvido,

Coisas que supostamente
não existiriam
para o abraço
no poema fazem sentido:
o próprio poema;
ou um beijo
a felicidade
ou um sentimento,
a própria saudade
o desejo!
e por que não?
O descontentamento...

Nenhum abraço causa estranheza
quando há amor envolvido,

Abraçar você me dá a sensação
que abraçar um sentimento bonito
traria,

pois você é metade amor
e a outra metade
poesia.

Cinco e quarenta e cinco

Flores para enfeitar seu dia
ao cair da tarde,

Há fios
em meio ao céu

Há flores
em meio aos fios

É a primavera da cidade!

o relógio marca
cinco e quarenta e cinco
da tarde.

É quase por do sol
e é sempre hora
da saudade.

Primavera do Vinhais, 2018.

O caos da minha poesia

O caos na poesia é cais
a saudade, vazio
a presença
é esperança
de quem carrega um coração
baldio,

O caos na poesia é cais
a ausência, distância
é desatino
o exacerbo nem sempre se mostra
exagero
e o acaso, de repente
é destino,

O caos na poesia é cais
e o tempo, relativo
é brisa
é passageiro,

O caos na poesia é cais
e a primavera,
o ano inteiro...

E de outra maneira o cais seria
se não fosses tu o motivo
do meu sorriso
e do caos
da minha poesia.

Diagnóstico

Sofrer de distância...

Será trauma grave
ou dor passageira?
Será algo suave arrastado
ou uma dor aguda e ligeira?
Será crônico-contagioso
ou um castigo da natureza?
Será loucura, coisa de quem ouve vozes?
ou será ternura, vontade de te ter
ou até quem sabe uma virose?

Eu realmente não sei
Talvez seja mais grave do que eu imaginei...

Sofrer de distância? Difícil escapar,
mas dizem que há cura!

Um dia, quem sabe
descobrirei
enquanto sofro dos sintomas
da lonjura.

A flor do abraço

A flor do abraço
heliotrópica
busca à luz do sentimento
a perfeita localização
um lugar onde não esteja a sós
como as sépalas, cálices e pétalas
que só funcionam juntas
na inflorescência dos girassóis.

A flor do abraço
enlaçadora
como se braços fossem
sempre abertos
e de prontidão
estende suas folhas
para que natural seja
abraçar outra alma
com o seu coração...

Instante esse em que o tempo para
Zera! E quando recomeça
A flor do abraço já virou canção.

A flor do abraço
é a beleza do girassol
é o "carrossel das abelhas"
como diz o poeta
em metáfora
é a flor do sol
que eu desejo
sem aspas...

Girassóis, 1888, Vicent Van Gogh

A felicidade do recomeço

A vida é um constante desencontro
para os que caminham distraídos
e uma bela estrada florida
                                        [colorida
de encontros,
de mistérios e também do desconhecido;

O desconhecido nos mostra
pouquíssimos passos de sua dança,
e enquanto cresce a curiosidade
                                         [de ti
crescem juntos também o medo
e a esperança...

A esperança (de ser feliz)
não costuma andar sozinha
ela junta o amor, a paixão
                                         [e nós dois
enquanto a vida nos acarinha...

E o carinho
assim como a (minha) vontade
aumenta na medida em que te conheço
torcendo para que em breve
quem adora finais
seja mais feliz
no recomeço!

Se a saudade tivesse casa

A saudade é um moedor
de tempos e distâncias
quer tudo no presente
e exige presença
mesmo se aquilo tudo já passou...

A saudade é intransigente
imperativa e impaciente
é trator
campinando um jardim
de flor,

A saudade é bonde que passa
que atropela
e faz fumaça
e a gente nunca sabe quando vem...

Mas como bem disse uma vez
uma amiga sábia:
"O destino trata de resolver
as saudades que a gente nem sabe direito
que tem."

Se a saudade tivesse casa
ela não moraria com ninguém.

O brilho dos diamantes loucos

Naquela noite
ao som de Pink Floyd
eu te beijei até a alma

shine on
you crazy diamond

era a melodia
que nos embalava

por alguns instantes
fomos eternos

em conexão
entrelaçados
e frutíferos
como maracujazeiro

naquele instante
fomos "para sempre"
e eu te devorei
de alma
e corpo inteiro

Now there's a look in your eyes
Like black holes in the sky

Já nesta noite
ao som de Pink Floyd
mais uma vez
eu evoco tua memória

shine on
you crazy diamond

Eu jamais esquecerei
a nossa história.

Não há espaço vazio que (um)a saudade não preencha

Não há espaço vazio
que (um)a saudade
não preencha,

tua ausência
preencheu de cores
a minha solidão
e agora a saudade
procrastina os dias
enquanto a poesia
se despetala
como flor
de ilusão.

A saudade
preenche vazios
mesmo assim
não me dou por satisfeito,
que sentimento é esse
que cultiva memórias
documenta o amor
como história
mas lacera
o meu peito?

Não há espaço vazio
que (um)a saudade
não preencha,
mas meu amor
melhor do que a saudade
é a tua presença.

Este mundo é muito pouco para ti

Este mundo é muito pouco para ti
por isso entre paredes, rotinas
e dias em que não se sonha
ficas a ponto de explodir...

Este mundo é muito pouco para ti
por isso é que diante do marasmo
do abandono
e do descaso
ficas a ponto de implodir...

Este mundo é muito pouco para ti
por isso é que entre cafés, pinturas
e as flores
os teus sonhos já não cabem mais em ti...

Este mundo é muito pouco para ti, meu bem

Mas assim como eu

O mundo

As estrelas

Só querem te ver sorrir.

Poema para o sorriso que mudou minha vida

Como um quadro
eu pintaria o sorriso dela
para expor nos sonhos
de quem ama,

Eu pintaria o sorriso dela
para fazer sorrir as manhãs
do meu despertar,

Eu pintaria o sorriso dela
com meus beijos
numa arte surrealista
de fazer inveja
a'Os Amantes de Magritte,

Eu pintaria o sorriso dela
em minha pele
como arte-eternidade,

Eu pintaria o sorriso dela
em minh'alma
para nunca mais sentir saudade

da falta que o seu sorriso faz,

Eu pintaria o sorriso dela
com o meu sorriso
para relembrar os dias
que os seus beijos
eram a minha paz.

Aurora

Aurora!
O raiar dos dias
nunca mais será
o mesmo
desde os primeiros segundos
de dia
que trouxeram consigo
o frescor
de uma nova vida.

Aurora!
Aquela que brilha
como o ouro reluzente
assim como a claridade
de uma nova manhã
que traz consigo
sempre um novo sorriso
um sorriso lindo
mesmo que sem nenhum dente...

Aurora!
Se o princípio de tudo
se encontra aqui
eu faço dos meus versos
uma ode a Ti,

Aurora!
Antes do nascer do sol
nasceste tu
em teu esplendor,

Aurora!
Antes do nascer do sol
nasceste tu
na mais pura forma
de amor.

Como poderei inventar-te outro nome?

Despedir-se
às vezes
é como morrer
por alguns instantes,
pois a saudade
é como a morte
de uma criança
- eterna e dolorida;
quando o amor
ao outro amor
já não corresponde
mas acontece que eu
acostumei chamar-te
Meu amor,
como poderei inventar-te
outro nome?

Já disse hoje que eu te amo?

Amor,

Quando o mundo inteiro
se traduz num beijo
este mesmo mundo se expande
em amor;

Amor,

Eu te enxergo com olhos de turista
que a cada olhar novo
sobre os teus cantos
veem inédita beleza
e inúmeros encantos;

Amor,

O sonho do poeta é a eternidade
da verdade de seus versos;

Amor,

Em minha poesia
nosso amor já é eterno.

E no futuro
quando o espelho da vida
enferrujado
revelar a que tempo
nos encontramos
encostaremos nossos rostos enrugados
um no outro
e eu direi:

Já disse hoje que eu te amo?

Pequenos versos quase poemas para as ruas de São Luís ou Poema de Sete Faces maranhense

Para Giovana Kury

I-

Na Rua do Egito não há faraós
apenas faróis
de carros que não respeitam tempo
                                                          [espaço
nem presente nem futuro
tampouco o passado,
assim como na Rua dos Afogados
onde se morre,
mas é de sede, de fome
ou à luz do dia
tomado de assalto.

II-

Na Rua do Giz
escrevi uma poesia
na parede
era um só verso
que dizia:
Tenho sede!

III-

Na Rua da Estrela
um céu havia
mais melancólico
do que deveria
seria dia de saudade
e eu - aos poucos
saberia.

IV-

Na Rua do Sol
há um sol
para cada um
que a uns poucos ilumina
e a tantos outros castiga,
porque o falso brilho
da exausta rotina
só alegra o dia daqueles
a quem se enriquece...

E aos que se entristecem
há muitas saídas:
vielas becos ladeiras
e avenidas
que vão dar no mar
assim como a saudade
que reflete em meus olhos
o por do sol da Beira-Mar.

V-

Na Rua da Palma
por um instante
eu me perdi
quando olhei no horizonte
e não te vi
então caminhei
até localizar
na Rua da Saúde
o beco
onde o meu coração
resolveu se encontrar.

VI -

Na Rua da Paz
eu perdi o meu sossego
pensando em demasia
nos problemas da vida
sobressaltei-me
como quem acorda de um sono tardego;
caminhei até a João Lisboa
buscando a quietude recuperar
vi um uma folha voar e cair
vi vários pombos a pousar
a tarde já ia caindo
e eu mal vi o tempo passar,
dessa vez o susto que eu tomei
foi um susto bom
daquele que o dia fora chamado de poesia
pelo poeta Ferreira Gullar.


VII -

Na Rua Portugal
sob a luz da lua
sobe um desejo (em mim)
de na esquina
minha voz num sussurro
encontrar com a tua
eu não devia te dizer
mas essa rua
mas esse sotaque
botam a gente comovido como quê.

Um amor que não perde os seus encantos

Um deslumbre
que atrai
uma lembrança
que agrada
um desejo
que não cessa
uma saudade
que não passa,

Em tudo
amiúde
de canto a canto
o teu nome eu canto
e também teu beijo de musa
[encantaria]
por isso o nosso amor
bendigo
[em poesia]
sempre e tanto
um amor fascinado
que não perde
os seus encantos.

O poeta não tem para onde ir

Poesia é ausência
escrevo para preencher vazios,

Meus versos são gritos
de saudade,

Minhas palavras não me pertencem mais
a medida que a ponta do lápis
risca de sangue o papel
manchando-o de sentimentos,

Poesia é ausência,

O poeta é um errante
que se faz presente
em verso e lamento

Na (vã) tentativa
de para algum lugar fugir,

Mas a poesia é ausência

Vem de um lugar que não existe

e o poeta não tem para onde ir.

O tempo do amor

O tempo do amor
conhece a espera
mas deseja mesmo
é o agora,

Então
cada minuto sem te ver
são horas
em vão
em que o tempo passa, passa
desapressado
procrastinando minha alegria
e antecipando minhas saudades...

Eu te amo
sempre no tempo do amor
em que o "para sempre" é o agora
e toda espera é agonia
toda espera é demora!

Eu te amo
sempre no tempo do amor
que também é o nosso tempo
em que a paixão é pano de fundo
de tudo que se vê
e onde se vive um para o outro
em um dia de cada vez...

O tempo do amor é um ninho
onde Eu passarinho
resolvi
junto de ti
pousar
desde então
todo o tempo
é tempo de amar.