O prédio atrapalha a minha visão
a vontade de querer enxergar o mundo de azul
de assistir às cinco e quarenta e cinco da manhã
o pôr-do-sol ao contrário
cinza alaranjado rosa amarelo
em contraste à feia arquitetura
que transforma pedra sem vida
em colunas cimentadas que atrapalham a minha vista.
a vontade de querer enxergar o mundo de azul
de assistir às cinco e quarenta e cinco da manhã
o pôr-do-sol ao contrário
cinza alaranjado rosa amarelo
em contraste à feia arquitetura
que transforma pedra sem vida
em colunas cimentadas que atrapalham a minha vista.
Eu quero enxergar
bisbilhotar
debaixo das pedras
que não têm,
mas que abrigam:
vida.
vida.
Eu quero espionar
o verde musgo das briófitas
o desabrochar das borboletas
o cochichar dos bem-te-vis
a palavra voando fora da asa
o verde musgo das briófitas
o desabrochar das borboletas
o cochichar dos bem-te-vis
a palavra voando fora da asa
o milagrar de flores
Eu quero atirar pedras no céu
e acertar algum homem de pecado
que dizem ser santo
mas há um prédio no meio do caminho
arranhando o céu
sem carinho
como um amontoado de pedras desperdiçadas
que sequer abrigam musgo
arranhando o céu
sem carinho
como um amontoado de pedras desperdiçadas
que sequer abrigam musgo
no meio do caminho há um prédio
que atrapalha minha visão
que tem nome de cidade europeia
ou de um homem branco qualquer
que minhas retinas fatigadas
traduzem livremente:
Nunca esquecerei desse acontecimento...
Manoel de Barros me entenderia
Carlos Drummond de Andrade também.
Carlos Drummond de Andrade também.
