terça-feira, 30 de julho de 2019

O que acontece com a saudade?

O que acontece com a saudade
que se sente
mas não se pode dizer?

Será se escorre pelas mãos
como o toque dos dedos
na tua pele
que não mais terei?

Será se transcorre
num ensaio em vão
das palavras que sussurraria
em teus ouvidos
mas que não direi?

Não sei.

A saudade afoga a gente
você me disse uma vez
mais rápido do que se pensa
como o peito que não se enche de ar
mas de uma agonia imensa.

É a pior.

É o preço que se paga
por se amar demais
e quando ela procura e não encontra o abraço
fica apertada cada vez mais.

Mas a saudade quando dá
nem sempre é triste
ela só tem que ser cuidada
para que não vire ansiedade
ou gastrite.

Mas a saudade quando dá
nem sempre ela é problema
se ela não vira dor de amor
vira poema.

O que acontece com a saudade
que se sente
mas não se pode dizer?

Uns a-guardam
para quem sabe
outro dia
eu deságuo
em forma
de lágrima-poesia.



terça-feira, 23 de julho de 2019

Nem toda poesia do mundo

Eu gosto do teu sorriso
porque ele é o elemento concreto
que me prova todo dia
e a cada segundo
que nem toda poesia do mundo
está escrita em verso.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

A paixão é vento de praia

Apaixonar-se
é encontrar-se
no mesmo lugar
onde por tantas vezes
o pensamento já se perdeu
é, por vezes,
desconhecer-se
a cada novo reconhecimento
de si mesmo,
é um renovar-se
de antigas e novas
verdades
sempre instáveis,
pois tudo pode mudar
diante do olhar
apaixonado.
É um não conter-se
e exagerar-se
e no exaspero
da vontade
abraçar
como se todo abraço
fosse de despedida
é ir - sem rumo
como se o caminho
fosse só de ida.
É enxergar o ser amado
com olhos de turista
em que a cada observar
descobre-se um novo encanto,
apaixonar-se é passear
entre o caos
e o cais,
como bem disse uma grande amiga:
"é o vento de praia
que espalha a farofa
mas que também
nos traz paz".

segunda-feira, 15 de julho de 2019

Maria

Para Maria Clara

Maria
a voz
a força
a eloquência.
Maria
a arte
as cores
presença!
Aquela que se eleva,
que é mar revolto
e por vezes
calmaria.
Maria
amor
da cabeça aos pés
és luz
todos os dias.
Maria
não necessito estar perto de ti
para te sentir
ouço o teu cantar ao longe
como os pássaros que sussurram
segredos do céu
e como eles sei que podes voar
para não sei onde
sem perder a essência
do que é teu.
Maria
amar
é o teu nome
e de outra forma não seria
pois tu és feita assim:
uma parte amor
e a outra parte
poesia.

quinta-feira, 11 de julho de 2019

O voo do guará-vermelho

Contigo
não cheguei a mergulhar
como em alto mar
tampouco molhei
somente os pés
como quando a maré
está a vazar.
Contigo
senti-me no mangue
em que eu
movediço,
sinto a terra
a me abraçar
mas antes de completamente
submergir
eu tomo ar
e volto a voar
por aí
como o guará
que ao por sol
sai
para se divertir.

O canto dos pássaros

A tarde azul
me permite ver o sol.

E o céu
que se apresenta à minha frente
mistura-se às saudades
a que se remetem a minha mente.

Eu ouço o cantar dos pássaros
como se eles estivessem a conversar
e não é conversa fiada, palavras ao vento
eles certamente têm algo a declarar.

Talvez estivessem a namorar
trocando palavras de amor
ou a debochar de nós
que ficamos aqui embaixo
a espalhar rancor.

Como é bonito e misterioso
o canto dos pássaros,
(pensei)
que se orquestram em cima das árvores
a ecoar...

E que triste é o nosso canto
(lembrei)
quando não se tem ninguém
para escutar.









quinta-feira, 4 de julho de 2019

Andar no Centro é um exercício de descobrimento

Andar pelo Centro
é diariamente
um exercício de ternura
gosto de observar
os detalhes:
desde a escadaria
recém pintada
até o sol que de tão presente
chega a invadir a rua,
e de repente
aquele dia despretensioso
começa a me chamar atenção
então
vejo o taxista ocioso
vejo a vendedora de coco
e velhinhos na praça
discutindo os rumos da nação.
Vejo os boêmios no mercado
e o sorveteiro que assovia
e canta boi,
vejo os casais se amando
as bandeiras ao vento cantarejando
e lembro de junho que já se foi.
Andar no Centro
é diariamente
um encantar-se
e espantar-se
com o que ronda a nossa vista,
vejo uma vez mais o sol
que ocupa e encobre a pista
observo ao longe
o desembarcar
e o caminhar dos turistas,
mas de perto a realidade grita
observo pessoas passando fome
e vários dizeres e protestos
na parede que abriga
poetas e artistas.
Andar no Centro
é diariamente
um exercício de nostalgia,
vejo crianças correndo pelas ruelas
e empinando pipa
vejo carne seca na janela
e lembro de como a minha avó fazia,
vejo os lavadores de carro
escutando reggae
(que ecoa longe e toca bonito),
vejo a velhinha que caminha com dificuldade
e em sua cabeça, uma tábua de pirulito.
Andar no Centro
é diariamente
um exercício de pertencimento
pois não importa para onde eu veja
ou aonde quer que eu vá
eu sei que aqui
é o meu lugar!



O sol que (me) invade a rua. Foto: Vinícius Veloso



quarta-feira, 3 de julho de 2019

Pequenos versos quase poemas para as ruas de São Luís ou Poema de Sete Faces maranhense

Para Giovana Kury

I-

Na Rua do Egito não há faraós
apenas faróis
de carros que não respeitam tempo
                                                          [espaço
nem presente nem futuro
tampouco o passado,
assim como na Rua dos Afogados
onde se morre,
mas é de sede, de fome
ou à luz do dia
tomado de assalto.

II-

Na Rua do Giz
escrevi uma poesia
na parede
era um só verso
que dizia:
Tenho sede!

III-

Na Rua da Estrela
um céu havia
mais melancólico
do que deveria
seria dia de saudade
e eu - aos poucos
saberia.

IV-

Na Rua do Sol
há um sol
para cada um
que a uns poucos ilumina
e a tantos outros castiga,
porque o falso brilho
da exausta rotina
só alegra o dia daqueles
a quem se enriquece...

E aos que se entristecem
há muitas saídas:
vielas becos ladeiras
e avenidas
que vão dar no mar
assim como a saudade
que reflete em meus olhos
o pôr do sol da Beira-Mar.

V-

Na Rua da Palma
por um instante
eu me perdi
quando olhei no horizonte
e não te vi
então caminhei
até localizar
na Rua da Saúde
o beco
onde o meu coração
resolveu se encontrar.

VI -

Na Rua da Paz
eu perdi o meu sossego
pensando em demasia
nos problemas da vida
sobressaltei-me
como quem acorda de um sono tardego;
caminhei até a João Lisboa
buscando a quietude recuperar
vi uma folha voar e cair
vi vários pombos a pousar
e os sinos da Igreja do Carmo a badalar;
a tarde já se avançava a ir embora
e eu mal vi o tempo passar,
dessa vez o susto que eu tomei
foi um susto bom
daquele que se faz suspirar
e que um dia fora chamado de poesia
pelo poeta Ferreira Gullar.

VII -

Na Rua Portugal
sob a luz da lua
sobe um desejo (em mim)
de na esquina
minha voz num sussurro
encontrar com a tua
eu não devia te dizer
mas essa rua
mas esse sotaque
botam a gente comovido como quê.



terça-feira, 2 de julho de 2019

Largo sorriso


A primeira vez eu a avistei
no Largo de Santo Antônio
criatura para mim
até então desconhecida,
mas com um jeitinho suspeito
de amor da minha vida;
de tão nervoso
sem querer esbarrei nela,
automaticamente pedi desculpas
e me afastei
mas a vontade era de ficar perto dela.
Era como se o Universo
estivesse a me mandar um recado:
que a força do desconhecido
atrai
quanto mais forte
é a vontade de ser amado.
A noite pouco durou,
mas a lembrança perdurou
e não raramente eu me flagro
distraído
relembrando o seu sorriso
desde então.
Sorriso este mais belo
que um pôr do sol
no Palácio dos Leões...