Saudade sem hora marcada

Para Eva Braun

A vida é como um barco
até quando quer atracar
balança,
mas a nossa esperança
por vezes insiste
em querer ser maré parada
esquecendo que não existe
tempestade sem vento
nem por do sol sem revoada.
A vida é movimento:
enchente, vazante
e também ressaca.
O sol nascerá de novo
sem ninguém impedir
nossa risada,
assim como nenhum mar revolto
deterá nossa chegada.
Atracaremos desta vez
em outro porto
e a saudade não mais terá
hora marcada.

Quarta feira de cinzas também é carnaval

Quarta feira de cinzas
também é festa
em nosso carnaval
porque estamos juntos
de mãos dadas,
somos irmãos de alma
e mapa astral.
Nos re-conhecemos
em nossas semelhanças
e nos juntamos
como os leões
não somos rei nem rainha
da selva
mas donos
dos nossos grandes corações.
O que nos une é o amor
e também a vontade de lutar
num mundo injusto
não há sossego nem silêncio
e tu conheces as palavras certas
a se usar.
Enquanto ao teu lado eu estiver
sei que a felicidade
será atemporal
e a quarta feira de cinzas
sempre será sempre colorida
será sempre carnaval!

O que acontece com a saudade?

O que acontece com a saudade
que se sente
mas não se pode dizer?

Será se escorre pelas mãos
como o toque dos dedos
na tua pele
que não mais terei?

Será se transcorre
num ensaio em vão
das palavras que sussurraria
em teus ouvidos
mas que não direi?

Não sei.

A saudade afoga a gente
você me disse uma vez
mais rápido do que se pensa
como o peito que não se enche de ar
mas de uma agonia imensa.

É a pior.

É o preço que se paga
por se amar demais
e quando ela procura e não encontra o abraço
fica apertada cada vez mais.

Mas a saudade quando dá
nem sempre é triste
ela só tem que ser cuidada
para que não vire ansiedade
ou gastrite.

Mas a saudade quando dá
nem sempre ela é problema
se ela não vira dor de amor
vira poema.

O que acontece com a saudade
que se sente
mas não se pode dizer?

Uns a-guardam
para quem sabe
outro dia
eu deságuo
em forma
de lágrima-poesia.

Nem toda poesia do mundo

Eu gosto do teu sorriso
porque ele é o elemento concreto
que me prova todo dia
e a cada segundo
que nem toda poesia do mundo
está escrita em verso.

A paixão é vento de praia

Apaixonar-se
é encontrar-se
no mesmo lugar
onde por tantas vezes
o pensamento já se perdeu
é, por vezes,
desconhecer-se
a cada novo reconhecimento
de si mesmo,
é um renovar-se
de antigas e novas
verdades
sempre instáveis,
pois tudo pode mudar
diante do olhar
apaixonado.
É um não conter-se
e exagerar-se
e no exaspero
da vontade
abraçar
como se todo abraço
fosse de despedida
é ir - sem rumo
como se o caminho
fosse só de ida.
É enxergar o ser amado
com olhos de turista
em que a cada observar
descobre-se um novo encanto,
apaixonar-se é passear
entre o caos
e o cais,
como bem disse uma grande amiga:
"é o vento de praia
que espalha a farofa
mas que também
nos traz paz".

Maria

Para Maria Clara

Maria
a voz
a força
a eloquência.
Maria
a arte
as cores
presença!
Aquela que se eleva,
que é mar revolto
e por vezes
calmaria.
Maria
amor
da cabeça aos pés
és luz
todos os dias.
Maria
não necessito estar perto de ti
para te sentir
ouço o teu cantar ao longe
como os pássaros que sussurram
segredos do céu
e como eles sei que podes voar
para não sei onde
sem perder a essência
do que é teu.
Maria
amar
é o teu nome
e de outra forma não seria
pois tu és feita assim:
uma parte amor
e a outra parte
poesia.

O voo do guará-vermelho

Contigo
não cheguei a mergulhar
como em alto mar
tampouco molhei
somente os pés
como quando a maré
está a vazar.
Contigo
senti-me no mangue
em que eu
movediço,
sinto a terra
a me abraçar
mas antes de completamente
submergir
eu tomo ar
e volto a voar
por aí
como o guará
que ao por sol
sai
para se divertir.

O canto dos pássaros

A tarde azul
me permite ver o sol.

E o céu
que se apresenta à minha frente
mistura-se às saudades
a que se remetem a minha mente.

Eu ouço o cantar dos pássaros
como se eles estivessem a conversar
e não é conversa fiada, palavras ao vento
eles certamente têm algo a declarar.

Talvez estivessem a namorar
trocando palavras de amor
ou a debochar de nós
que ficamos aqui embaixo
a espalhar rancor.

Como é bonito e misterioso
o canto dos pássaros,
(pensei)
que se orquestram em cima das árvores
a ecoar...

E que triste é o nosso canto
(lembrei)
quando não se tem ninguém
para escutar.

Andar no Centro é um exercício de descobrimento

Andar pelo Centro
é diariamente
um exercício de ternura
gosto de observar
os detalhes:
desde a escadaria
recém pintada
até o sol que de tão presente
chega a invadir a rua,
e de repente
aquele dia despretensioso
começa a me chamar atenção
então
vejo o taxista ocioso
vejo a vendedora de coco
e velhinhos na praça
discutindo os rumos da nação.
Vejo os boêmios no mercado
e o sorveteiro que assovia
e canta boi,
vejo os casais se amando
as bandeiras ao vento cantarejando
e lembro de junho que já se foi.
Andar no Centro
é diariamente
um encantar-se
e espantar-se
com o que ronda a nossa vista,
vejo uma vez mais o sol
que ocupa e encobre a pista
observo ao longe
o desembarcar
e o caminhar dos turistas,
mas de perto a realidade grita
observo pessoas passando fome
e vários dizeres e protestos
na parede que abriga
poetas e artistas.
Andar no Centro
é diariamente
um exercício de nostalgia,
vejo crianças correndo pelas ruelas
e empinando pipa
vejo carne seca na janela
e lembro de como a minha avó fazia,
vejo os lavadores de carro
escutando reggae
(que ecoa longe e toca bonito),
vejo a velhinha que caminha com dificuldade
e em sua cabeça, uma tábua de pirulito.
Andar no Centro
é diariamente
um exercício de pertencimento
pois não importa para onde eu veja
ou aonde quer que eu vá
eu sei que aqui
é o meu lugar!

O sol que (me) invade a rua. Foto: Vinícius Veloso

Pequenos versos quase poemas para as ruas de São Luís ou Poema de Sete Faces maranhense

Para Giovana Kury

I-

Na Rua do Egito não há faraós
apenas faróis
de carros que não respeitam tempo
                                                          [espaço
nem presente nem futuro
tampouco o passado,
assim como na Rua dos Afogados
onde se morre,
mas é de sede, de fome
ou à luz do dia
tomado de assalto.

II-

Na Rua do Giz
escrevi uma poesia
na parede
era um só verso
que dizia:
Tenho sede!

III-

Na Rua da Estrela
um céu havia
mais melancólico
do que deveria
seria dia de saudade
e eu - aos poucos
saberia.

IV-

Na Rua do Sol
há um sol
para cada um
que a uns poucos ilumina
e a tantos outros castiga,
porque o falso brilho
da exausta rotina
só alegra o dia daqueles
a quem se enriquece...

E aos que se entristecem
há muitas saídas:
vielas becos ladeiras
e avenidas
que vão dar no mar
assim como a saudade
que reflete em meus olhos
o pôr do sol da Beira-Mar.

V-

Na Rua da Palma
por um instante
eu me perdi
quando olhei no horizonte
e não te vi
então caminhei
até localizar
na Rua da Saúde
o beco
onde o meu coração
resolveu se encontrar.

VI -

Na Rua da Paz
eu perdi o meu sossego
pensando em demasia
nos problemas da vida
sobressaltei-me
como quem acorda de um sono tardego;
caminhei até a João Lisboa
buscando a quietude recuperar
vi uma folha voar e cair
vi vários pombos a pousar
e os sinos da Igreja do Carmo a badalar;
a tarde já se avançava a ir embora
e eu mal vi o tempo passar,
dessa vez o susto que eu tomei
foi um susto bom
daquele que se faz suspirar
e que um dia fora chamado de poesia
pelo poeta Ferreira Gullar.

VII -

Na Rua Portugal
sob a luz da lua
sobe um desejo (em mim)
de na esquina
minha voz num sussurro
encontrar com a tua
eu não devia te dizer
mas essa rua
mas esse sotaque
botam a gente comovido como quê.

Largo sorriso

A primeira vez eu a avistei

no Largo de Santo Antônio

criatura para mim

até então desconhecida,

mas com um jeitinho suspeito

de amor da minha vida;

de tão nervoso

sem querer esbarrei nela,

automaticamente pedi desculpas

e me afastei

mas a vontade era de ficar perto dela.

Era como se o Universo

estivesse a me mandar um recado:

que a força do desconhecido
atrai
quanto mais forte
é a vontade de ser amado.
A noite pouco durou,
mas a lembrança perdurou
e não raramente eu me flagro
distraído
relembrando o seu sorriso
desde então.
Sorriso este mais belo
que um pôr do sol
no Palácio dos Leões...

Com todo carinho

A vida – às vezes

nos causa espanto

e também nos traz surpresas

ela nos d

                    e

                          s

                                 equilibra

entre sorrisos

e tristezas...

porém das coincidências,

encontros (da vida)

e resistências

nasceu o amor

mais forte que uma saudade,

amor este que nos une

no laço indivisível  

da amizade;

e agora

o espanto que traz a vida

é aquele do poeta que outrora fingia

fingindo o que de fato sentia

sabendo que o teu amor

é poesia;

e a surpresa

é dia após dia

pois agora repousas

em meu peito

onde bate o coração

e o e q u i l í b r i o

tornou-se constante

no momento em que seguraste

e não soltaste a minha mão.

Encruzilhada

A saudade

está sempre procurando

 um ponto de encontro,

(a)onde nossos caminhos

se cruzem.

Como nossos carinhos

nossas saudades

estão combinadas;

Como nossos carinhos

nossas saudades

não têm hora marcada,

Mas em breve

hão de se encontrar

basta só uma encruzilhada.

MORADA

Metade

Ou pouco

A mim

Não basta

Para o poeta

É tudo

Ou então

É nada.

E o que resta

Da caminhada

Quando a saudade

É o horizonte

Dessa estrada?

E o que me prende

A ti

Se a paixão

É sufocada?

A mim não interessa

Um pedaço

Ou quase nada

O amor tem pressa

E carece de espaço

Deseja morada

Que encontra

Em teu abraço.

Tu e eu

O teu amor
É cheio de vontade
Vontade de ir
Vontade de ficar
Vontade de não reprimir
Vontade de suportar
Vontade [somente] individual
[...]
Mas, amor
Assim não dá para ser
Cada um
Com seu cada qual.

A censura do olhar alheio
Vem da incapacidade
Daqueles que não sabem amar
Desprezam o belo achando que é feio
E nos querem impedir de gozar
Vamos nos dar as mãos, meu amor
Não precisamos soltar.

Um dia eu sonhei com o futuro
E vi nós duas
Imperfeitas criaturas
Sorrindo uma pra outra
Como se tivéssemos
Em um filme numa cena boba
E aí relembro do presente-passado
No dia em que nos fundimos
Alma a alma, boca a boca.

Às vezes é demais ser quem se é
E acabamos por transbordar
Derramamos aquilo que temos em excesso
Esperança, receio, ansiedade
Ou até mesmo o medo de amar,
Derramo saudade
E a vontade de o teu nome gritar!

Amada,
Sossega em meus braços,
Desde quando tu resolveste
[não resolver]
Os beijos são sem endereço
E incompletos são os abraços
Somados à vontade de te ter.

Ser feliz demais exige riscos
Batalhas
Que costumam anteceder as glórias
Não deixemos diminuírem o nosso amor
E nem o tamanho da nossa história.

O meu amor também é cheio de vontade
Como o teu
E hoje cheio de saudade
Ele ainda aguarda
Quando finalmente, minha amada
Seremos
Tu e eu!

NASCI PARA AMAR

Eu nasci para amar
E amo!
Em demasia,

Eu nasci para ser
E sou!
- poesia,

Eu nasci para sentir
E sinto muito!
Mergulho
Em nostalgia,

Eu nasci para cantar
E canto!
Dia após dias,

Mas não nasci para calar
E não me calo!

Minha chama acesa
é que me mantém viva...

Nasci mesmo para o amor
Porque só amar
É que salva vidas.

INSUBMISSA

Eu digo que é coincidência
Ela diz que é imitação
Ela diz que eu pareço familiar
Eu digo: por que não?

Não sei se te vi por aí
[em algum lugar]
mas agora que segurei a tua mão
talvez eu não queria mais soltar...

[Ninguém solta a mão de ninguém!
Esse é o meu grito também.]

Ela lê romances, poesia e mapa astral
e me descreve tão bem
como aquele disco da Gal...

["Meu coração não se cansa
de ter esperança
de um dia ser tudo o que quer..."]

Ela escreve
p-o-e-s-i-a
buscando inspiração em si
descreve a luta
do seu dia a dia
com a boca-coração
coragem, muita coragem!
para seguir sempre sua paixão.

Ela é sagitário
eu sou leão
somos encontros
de sóis
de fogo
e de tudo que queima
em nós.

Ainda temos muito a ver
conectar; conhecer
para compreender,
mas dos teus versos
palavras e gestos
já pude aprender
a tua teoria
é jamais [se] submeter!

Sorriso pré-fabricado

Ela
quando acorda
é um charme
quando me lança
o olhar
é desarme
e quando me beija
alarme;
espanto
é susto e alegria
algo que Ferreira Gullar
um dia chamou
poesia.

Ela
quando me chama
é mistério,
dose de adrenalina
é vontade
é desejo
(de me perder
em sua juba felina).

Ela
quando escreve
é profundidade
é finesse
palavras pesadas
como a saudade
lembrança de momentos
que não se esquece.

E se Quintana
com seu poema
salvou um afogado
a minha palavra é humilde
cresce como um grãozinho
e com meus versos
desejo plantar
um grande sorriso
no teu rosto
de leãozinho.

Lioness says

Lioness says:
the sun comes
from inside.

your internal light
shines
like a crazy diamond
beautiful
and wild;

Lioness says:
it's Friday
(I'm in love!)
and when it's Sunday
(and I'm without you)
the sun shines less
while I'm asking myself
where would be
the lioness?

Lioness says:
calm down, little lion
I'll see you soon
even though
we are far away
I'll reach you
bright and gorgeous
as the moon.

Lioness says:
I'll let you free
so you can go
wherever you want
"I want you to go
with me"
the lion says
the present
is our instant.

Quando chove saudade

Quando chove saudade
nunca é garoa,

enquanto
o amor é brisa
a saudade é ventania
furacão,

enquanto
o amor é companhia
a saudade é desatino
solidão.

Quando chove saudade
nunca é chuvisco
é tempestade.

Quando chove amor
eu me molho,

e quando chove saudade
eu encharco.

Quando chove saudade
eu resfrio,

quando chove amor
eu me curo.

Chuva de amor é calma
silenciosa,

quando chove saudade
há sempre uma voz alta
que chama...

chove mais
pode chover
Exclama:

A saudade é privilégio
de quem ama!