quinta-feira, 4 de julho de 2019

Andar no Centro é um exercício de descobrimento

Andar pelo Centro
é diariamente
um exercício de ternura
gosto de observar
os detalhes:
desde a escadaria
recém pintada
até o sol que de tão presente
chega a invadir a rua,
e de repente
aquele dia despretensioso
começa a me chamar atenção
então
vejo o taxista ocioso
vejo a vendedora de coco
e velhinhos na praça
discutindo os rumos da nação.
Vejo os boêmios no mercado
e o sorveteiro que assovia
e canta boi,
vejo os casais se amando
as bandeiras ao vento cantarejando
e lembro de junho que já se foi.
Andar no Centro
é diariamente
um encantar-se
e espantar-se
com o que ronda a nossa vista,
vejo uma vez mais o sol
que ocupa e encobre a pista
observo ao longe
o desembarcar
e o caminhar dos turistas,
mas de perto a realidade grita
observo pessoas passando fome
e vários dizeres e protestos
na parede que abriga
poetas e artistas.
Andar no Centro
é diariamente
um exercício de nostalgia,
vejo crianças correndo pelas ruelas
e empinando pipa
vejo carne seca na janela
e lembro de como a minha avó fazia,
vejo os lavadores de carro
escutando reggae
(que ecoa longe e toca bonito),
vejo a velhinha que caminha com dificuldade
e em sua cabeça, uma tábua de pirulito.
Andar no Centro
é diariamente
um exercício de pertencimento
pois não importa para onde eu veja
ou aonde quer que eu vá
eu sei que aqui
é o meu lugar!



O sol que (me) invade a rua. Foto: Vinícius Veloso



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